Sunday, February 18, 2007

Mais questões filosóficas

Mais questões filosóficas.
(Nayguel Cappellari)

E então, tudo que pensavas acreditar desaba como uma avalanche aos teus pés.
Teus anjos te abandonaram. Tua voz cessou, teus gritos não tão mais acordando multidões. Percebes que de fraldas não caminhas mais, nem sequer usa aquele macacão colorido dos teus seis, sete anos de idade. E então, tu percebes que tudo está desmoronando, que o que tu menos queria está agora, finalmente, acontecendo.
Te vês debrulhados em lágrimas, com uma pessoa em tua frente, quem seria ela? Não consegues ver, teus olhos estão cansados demais para perceber... Mas com o tempo a imagem fica nítida, tu automaticamente pegas em cima de uma cômoda um óculos e contemplas a figura de uma mulher de uns vinte e seis, vinte e sete anos ali. E percebes que aquilo é coisa tua, uma escultura tua. Uma criação. É tua filha.
E percebes que estás ficando velho, que teus joelhos já não tens mais por causa da quantidade de açúcar do corpo, ou ainda pela falta dela.
E percebes que não consegues caminhar, mas mesmo assim nada te deixará triste, não mesmo. Porque tu percebes também, que o mundo que agora estás vivendo é mais amplo, mais sólito, mais humano, e isso te enche de lágrimas. Enche mesmo, e teu coração bate cada vez mais forte cada vez que vês um jovem tentar ajudá-lo ao locomover-se com a cadeira-de-rodas para algum lugar. E teus olhos enchem de lágrimas quando, na verdade, tens as tuas imagens de infância de novo. Lembras do teu primeiro melhor-amigo, aquele que nunca mais viste, mas que sempre quiseste encontrar, lembras daqueles amigos que já se foram, ou alguns que ainda possuem joelhos ou que estão muito pior que tu. Ou lembras do teu primeiro e único melhor amigo. Um gatinho de um ano, que viveu contigo até os três, quando misteriosamente sumiu.
E teus olhos mais uma vez te enchem de lágrimas. Mas isso não te deixa feliz, não mesmo. Isso te deixa cada vez mais feliz...
E quando estás, pronto para voltar para casa, vês alguém te esperando na porta com um sorriso lindo e feliz. Percebes que é a tua esposa de mais de trinta anos, trinta e um e dois meses, para ser preciso. E ela te ama de verdade, e tu a amas. Tua esposa, tua companheira, tua ajudante. Ela que te deu apoio todo o tempo. E tu, que fizeste para agradá-la? Nada. Não deste carícias. Não deste beijos. E quando foste fazer isso, simplesmente parou. Teu coração parou e o mundo chorou a tua ausência.









Vamos amar sem medida!
Por favor.
Sem distinção, sem problema algum.
Sem qualquer PRECONCEITO.
AMAR de amor.
AMAR de amizade.
AMAR de simplesmente AMAR.


Fiquem bem.

Friday, February 16, 2007

Mais um que se vai.



Mais um que se vai.
(Nayguel Cappellari)

Bom, sei que esta não é a melhor maneira de se começar um texto, mas não tendo outra em vista, fico com apenas este rumo, onde começo a escrever. Talvez este texto fique subjetivo demais, talvez não, talvez me ataque os nervos no meio dele e eu comece a delirar, talvez não. Mas por favor, o que eu peço é que quem estiver lendo, leia até o final. Acho que valerá o esforço.
Primeiramente gostaria de comentar o porquê de eu estar aqui, agora, escrevendo. Durante um tempo, este mesmo tempo que fiquei sem atualizar as postagens, me deu uma forte e involuntária vontade de não escrever nada, sabe, aquele tempo que os escritores ficam sem inspiração.. Então, durante este tempo eu não queria escrever, aliás, vontade de escrever não faltava, o que eu não via era o sentimentalismo que eu tanto prezo em minhas escritas, por isso, joguei muitas coisas fora. Mas hoje, acordei-me cedo [mesmo tendo ido dormir tarde] e me deparei com o teto de meu quarto, e filosofava por causa de um sonho que eu tive.
Muitos de vocês (senão todos), devem saber o que aconteceu com o menino chamado João, que foi brutalmente arrastado por um carro. Sim, deve-se a ele mesmo este texto e esta profunda reflexão.
Recusei-me a ouvir noticiários ou ler algo na internet que falasse da morte deste menino, porque eu sabia que iria ficar durante uma eternidade chorando e me corroendo por dentro, porque eu não pude fazer algo para salvá-lo. E eu sei, existem vários Joãos por aí. Por isso decidi tentar evitá-lo desta forma. Acho que não consegui.
Na madrugada de quinta para sexta-feira, tive um sonho. Um sonho um tanto quanto triste, lindo e real.
Sonhei com o pobre e incrível menino João, sonhei que eu estava dentro de um recinto, não sei dizer ao certo se era um super-mercado ou se era alguma lanchonete ou coisa do tipo, sei, dizer ao certo que estavam em minha frente duas mulheres, aparentemente bem tristes e cansadas, e com os olhos completamente fechados, porque se recusavam a olhar novamente o mundo. E uma delas falou, em alto e bom tom, mesmo que cheio de tristeza:
- Este era o caderno do meu Joãozinho, ele escrevia algumas coisas, tem umas coisas aqui.
Ela mostrou-me mas não tinha páginas, estavam arrancadas.
Quando eu, ainda em sonho, viro-me para o lado, e as duas mulheres somem, e me vem à frente a imagem do menino. Ele fala, rindo e com os olhos de criança esperta e incrivelmente feliz:
- Não precisa chorar, eu não morri, nem vou morrer. Sou uma estrela!
E eu olhei pra ele, e uma lágrima escorria de minha face. Até que eu o vi se distanciar, e acordei.

Logo, este sonho me fez refletir o dia todo, eu havia ido dormir às três da manhã e me levantei às seis, não consegui mais "pregar os olhos" e fui me vestir e arrumar para às sete horas correr, fazer exercício matinal. Quando, ainda em passos rasos e bem lentos por causa da sonolência e da inatividade de querer dormir, fui até a cozinha e vejo, meio que de relance um vulto passando por cima de mim, e entra a claridade em meus olhos, em meu espírito. Não vi mais nada, fui à geladeira e roubei alguma coisa pra comer, que nem lembro o que era, tomei um café, escovei os dentes e fui correr.

Aos olhos das pessoas na rua eu era uma pessoa normal, correndo com a camiseta do Grêmio (depois da vitória incrível do meu time na Libertadores eu tive de coroá-lo com a camisa no outro dia também), correndo em volta de um "canalete", onde pedestres geralmente fazem o mesmo, com ou sem a camisa do Grêmio. Mas eu não era, enquanto corria, não conseguia tirar o sonho da cabeça, e, ao parar no fim do caminho, para fazer a volta, deparei-me com um nascer-do-sol maravilhoso e me veio a imagem do lindo e sorridente Joãozinho, que me fez rir e soltar algumas lágrimas, verdadeiras e de coração. Não as enxuguei, segui em frente depois de olhar o nascer-do-sol, debrulhando-me em lágrimas e sorrindo cada vez mais, apesar de tudo que havia acontecido.
Por isso, eu sei, o menino, João, de fato é um anjo. É uma estrela que está a proteger todos nós. E espero que mantenha sempre o sorriso em frente e os olhos de criança exuberantemente incríveis.
Hoje, apesar de tudo, eu fui mais feliz graças ao menino João. Espero que ele esteja feliz, onde quer que ele estiver.