Thursday, July 17, 2014

Das sete

Das sete
(Nayguel Cappellari)

Para quem mesmo?

I

Já faz um tempo em que te vi pela última vez,
em que te vi sorrir e dizer pra mim que tudo estaria bem.
Já faz um tempo que eu enxaguei tua dor,
em que eu te apoiei em meus braços e disse que tudo estaria bem.
Já faz um tempo que nos vimos e conversamos pela última vez.
Em que eu te dizia que de nada adiantava desistir, e sofrer.
Já faz um tempo tão grande que vi teus olhos chorando,
tua dor que te consumia e consumia a mim mesmo.
Já faz tanto tempo que sequer lembro
do som da tua voz
ou da cor dos teus olhos.

II

E com o passar dos dias, sequer percebo quem sou eu
e quem nós éramos. Apaixonados? Amantes? Amigos?
Não sei dizer, e aposto que tu também não.

Éramos duas metades iguais,
dois acasos incapazes de vivermos sem um ou o outro.
No entanto, onde estamos agora? Sem tu estares aqui comigo...
Sem estares aqui comigo?

III

Hoje a chuva lá de fora ou os fantasmas que aqui me consomem.
Não são os mesmos de outrora.
Mas continuam a machucar tanto quanto aqueles que se foram.
Ouço teus lamentos intensos em meus ouvidos, ainda.
Canto às paredes e à escuridão aquelas palavras negras e fortes que tanto te disse.
Sonho, ainda, com aquelas coisas que te disse um dia.
Meu corpo dolorido de tanto esperar.
De tanto esperar algo que só existia para mim.

IV

E nos perdemos lá atrás no tempo,
onde eu jamais vou te reencontrar, não importa o que digam.
Não há lugar dentro de mim pra nós dois,
não há lugar para ti dentro de mim,
não há lugar para mim dentro de ti.
E não faz diferença pra mim,
meus sentimentos são tão fortes pra mim,
que consomem a mim a cada dia.

V

E quem esteve ao teu lado, sem te deixar cair?
Quem te fez sorrir quando eras tu quem choravas?
Quem te alegrou o coração quando a tempestade era em ti?
Quando tu perdeste quem era importante pra ti?
Quem esteve ao teu lado quando a vida lá fora se esgotava?
E quando dentro de ti outra surgia?
Quem esteve ao teu lado em todos os momentos de tua tristeza,
de tua alegria, de tua hesitação, de quando tinhas medo?
Quem esteve ao teu lado, a não ser eu mesmo?

VI

Mesmo que o mundo desabe,
mesmo que tudo mude,
em mim as coisas serão sempre as mesmas,
dói, dói o coração por te querer comigo.
Dói o coração por amaldiçoar-te todos os dias.
Dói o coração por ainda querer...

VII

É burro este que escreve,
que não sabe em qual parte do que está escrito
é verdade ou ilusão.
É burro este que escreve,
que já não sabe sequer onde se encontra
àquela que um dia tanto esteve
perto de si.