Saturday, June 16, 2012

Capítulo I

Capítulo I

Um sonho?
Ele pensava. Só podia ter sido um sonho, afinal, ele adormecera antes de chegar ao capítulo quatro de seu livro. Estava cansado, demasiadamente cansado. Sua vida tem sido difícil e cansativa, e ele já não consegue nem pensar em que rumo tomar para melhorar seus dias. Pensa na família, nos amigos, e até mesmo nas pessoas que odeia, e percebe que tem alguma coisa errada, pois os sentimentos de outrora já não existe mais para ele. Antes havia amor e saudade dos amigos e familiares, e ódio e desprezo das outras pessoas que não gostava, agora, naquela manhã fria de junho, ele levanta-se da cama e pensa em tudo, mas não consegue sentir nada. Será que eu odeio tanto esta pessoa que não consigo nem sequer sentir nada? Será que eu não amo quase nada os meus amigos para não lembrar nem do som da voz deles? O que anda acontecendo? E eis então que ele encontra, na cadeira ao lado da cama, o casaco que usara na noite anterior e no põe, instintivamente, a mão ao bolso, e encontra a carta que lera naquela mesma noite.

Não sabia o que fazer, nem como prosseguir, dentro dele a raiva tomava conta, e o medo era o combustível para as tantas perguntas, mas nos seus olhos as lágrimas escorriam e o mais estranho, ele tinha um sorriso no rosto. Ao menos agora eu sei, pensava ele, o que está acontecendo. Tenho tantas perguntas que já não sei para onde seguir ou o que fazer. Minha vida está numa porcaria total e eu estou lastimando por pessoas que nem sequer se lembram que eu existo. E essa era a dor que mais doía para ele, a dor de ser esquecido, pois ele nunca esquecera ninguém. Mas ele chorava, e chorava porque começara a esquecer. Esquecer tantas coisas que ele queria lembrar, o som da voz de algumas pessoas, os abraços, as risadas, mas ele não lembrava de nada...

Nem mesmo ele lembrava o que havia acontecido na noite anterior de ter recebido a carta. Via rostos perdidos pela casa, lembrava das pessoas em vagas lembranças, mas não sabia os nomes, nem o que eram para ele, não sabia quem era amigo, quem não era. Imaginou que todos fossem, pois se fossem alguém que ele não gostava, ele não manteria fotos espalhadas pela casa. Foi até a sala onde havia sua estante com os livros, e não lembrava de nenhum deles, mas sabia que havia lido todos, sabia que todos aqueles livros tinham sido parte dele e moldado os pensamentos que ele tinha. Mas não lembrava de uma frase singular, ou de alguma história que eles continham. Não lembrava das suas músicas preferidas, nem dos filmes que amava. Ele era um ninguém, e estava esquecido, e estava começando a esquecer-se também.

E então ele então chorou. 

Pensava que sua vida tinha acabado, e sentou-se ao canto da sala, encostado na parede, pensando nas coisas que ele já não lembrava, e ele então desistiu tomar um caminho diferente. Se um dia ele tinha sido feliz, ele seria novamente.

Foi até a estante e pegou o primeiro livro, e começou a ler, e conforme terminava um, lia o outro, incansavelmente, sorria, feliz, pois tinha novos amigos, novos amores, novas histórias. Ele escondia-se nos livros que outrora já havia lido. E agora não precisava de ninguém, pois tinha nos livros todas as suas respostas respondidas.

E ele foi feliz assim, até que tudo mudou novamente.

- Continua.

No comments: